Mind the gap

No metrô, sentado à frente da amiga, mas virado para ela, ele falava e falava. Quando não, os olhos inquietos indicavam a busca do que dizer, de modo a manter vivo o contato. Nos poucos segundos de silêncio, ela, sempre em estado de conversa, o socorria com um comentário qualquer, o que já lhe bastava para retomar o fluxo verbal.
Em outros momentos o jovem conjugava uma rápida sapateada com um riff de batucada no encosto do assento de acrílico, como se fosse uma virada de bateria, um efeito de passagem para um novo assunto.
Até que ela desceu e logo alguém sentou-se onde estava. Ele manteve-se na mesma posição, quieto, pensativo, com a mão no queixo, como se percebesse o eco de sua voz, a inércia do ritmo intenso da conversa interrompida.
Desceu algumas estações depois.

- Cristiano Ottoni de Menezes (inédito/2015)


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